quarta-feira, 29 de junho de 2011

Tainá and Edwards



E eu, que vim: 
Debaixo da linha do Equador,
Para essa terra estranha,
Pensei em achar tudo!
Menos você...

Então encontrei um lugar,
Só pra mim.
E era no seu coração:
Que eu podia repousar...

E deste jeito entendi
Que posso ter o mundo!

Mas é no seu lar, que eu quero estar...


                                          [ Tamires Martins ]                                                                                                                                                                                                                                                   

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O Balido.

Quando a porta do quarto se abriu e a claridade que vinha da luz do corredor iluminou parcialmente o ambiente, ela vislumbrou a fisionomia do homem que vinha em sua direção. Ele tinha um olhar perdido, como se fitasse alguma coisa muito além dela, algo numa outra dimensão, num outro tempo. Ela se encolheu na cama numa tentativa de se proteger daquilo, de fugir daquela situação. O homem se aproximava com seu olhar sem vida, murmurando palavras que ela não estava conseguindo entender. Ele alcançou a cama. Ela tremeu e olhou para o celular ao seu lado. O homem chamava por um nome de mulher que não era o seu. Ela pegou o celular. Seus olhos infantis fitaram, atemorizados, aquele personagem que começava a puxar o lençol que a cobria. Então ela teclou um número.

- Não se preocupe, querida! Tudo ficará bem. Você foi muito corajosa e eficiente ao telefonar pra mim Assim eu pude entrar em contato com a equipe do hospital, e eles chegaram a tempo de evitar algo grave. Pode ficar tranqüila. Tudo ficará bem.

- Será mesmo, tio? – a menina não tirava os olhos do homem que estava envolto numa espécie de camisa-de-força, sendo levado por dois sujeitos de jalecos brancos em direção a uma ambulância.
- Eu lhe garanto, Fernanda. Tudo se resolverá de modo satisfatório.
  Um homem que parecia o chefe da equipe aproximou-se da menina e do tio dela.
- Nós estamos indo. Assim que tudo estiver sob controle entraremos em contato, Sr. Nelson.
- Tudo bem! Nós estaremos ansiosos – respondeu o Sr. Nelson.
O homem se afastou. A menina não deixava de fitar o veículo branco. Então ela perguntou:
- Por que ele ficou assim, tio?
- Porque ele nunca conseguiu superar a morte de sua mãe. E então ele passou a ver em você a própria esposa, ou seja, você passou a ser a personificação de sua própria mãe na mente perturbada dele.
- Eu não quero que nada de mal aconteça ao meu pai, tio. Eu não vou conseguir agüentar. Já basta a falta de minha mãe.
- Vai dar tudo certo. Brevemente ele estará novamente entre nós completamente lúcido. Essa equipe é muito boa, extremamente profissional. Ele será muito bem assistido.
 - O senhor acha que ele ia me machucar lá no quarto? – Seus olhos adquiriram um tom de tristeza profunda.
- Eu creio que não, mas de qualquer modo nós chegamos a tempo.
 Foram atraídos pelo barulho do motor da ambulância que logo a seguir deu a partida.
A menina de olhos azuis, cabelos loiros e que aparentava ter uns doze anos, conseguiu ler o letreiro na parte lateral do veículo:
CENTRO DE RECUPERAÇÃO NEUROLÓGICA.
  Uma lágrima brotou no canto do seu olho esquerdo.

 Juca Cavalcante ] 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Poema Definitivo

Eu sei que já passou , ao menos ,aqui, você ainda me olha.
É esse medo de te encarar, te querer imaginando por que tudo se perdeu.

Tudo isso não me deixa dormir, mas sempre te quis bem e isso não bastou.
Quando toca tua música não é apenas saudade, é um “querer bem” que não morre,

É o teu sorriso, tua voz.... e , talvez, a certeza de ter valido a pena,
Apesar da lágrima que cai, do sentimento que, aos poucos, vai sumindo.

E sobra , acaba por vencer, a felicidade de ter vivido, de ter sentido.

Essa certeza me entristece pois é no sofrimento que sei que vivo... é nele que me encontro.

Te encontrar amanha vai ser mais fácil, vou procurar aquilo tudo aqui dentro.

Sentirei raiva de não te reconhecer em mim, de buscar inutilmente a angústia
De ter , novamente, aquele terrível pensamento:

“ foi melhor assim”.

[ Alberto Simoes ]

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ave de Rapina

Era uma vez um pássaro negro
Que voava no escuro
Ele voava em círculos
Ele atacava com suas garras
Os que o feriram pelas costas...
Em nuvens escuras desaparecia
Se protegia na noite calada
Vivia nas montanhas de sua própria solidão
E o peso que carregava durante sua tragetória
era a fuga perante o desconhecido
Levava cicatrizes em seu peito
A força estava em suas asas
Que muitas vezes eram transformadas
durante o percurso do tempo
Seus olhos desconfiados e sem medo
procuravam abrigo
Emitia um som 
que vinha de sua alma de rapina
A ventania o impulcionava como alavanca ao alvo
A tempestade mágica apontava-lhe a direção
A brisa suave acalantava sua dor...
O pássaro negro é o mais valente de todos os pássaros...

Ana Lins

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Neste trem

Todo aquele povo sofrido,
forte e bravo
que resistiu e fala Agostinho
 
Hoje estão aqui!
neste trem das 11.
 
Vendendo biscoito e tudo mais.
Sofrendo e resistindo.
O tambor que era tocado lá
que aqui escutamos bem
tambor tocado com sangue e suor
 
Como foi lá em Angola
Como está sendo aqui
 
Hoje estão aqui!
neste trem das 11.
 
Com as mesmas feições
e a cor negra da pele 
Quanto tempo de escravidão.
 
Para ditadores diferentes
racistas diferentes.
 
Hoje estão aqui!
neste trem das 11.
 
Pela janela olhamos
os barracos da áfrica carioca
e a sobrevida segue...
 
Bate tambor!
bate cartão!
 
Hoje estão aqui!
neste trem das 11.



[ Vladimir Ribeiro ]

terça-feira, 7 de junho de 2011

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Matéria invisível

Sob o manto suave da aurora despertamos e nos elevamos
Flutuamos sob a miragem concreta desse mundo pagão
Ávidos da coragem covarde de acordar
Sonolentos precoces do aviso dos cavaleiros do Apocalipse
Sujeitos a introspecção mais absurda da obviedade
Moléculas minúsculas da imensidão negra do universo
Clamando, implorando cada essência milagrosa de vida
Repletos de indecências inocentes
Sobressaltados pela perplexidade da matéria invisível que nos abraça.


Gabriel Mendes

sexta-feira, 3 de junho de 2011

se remoência existe não sei, só sei que está aqui

E essa remoência que fica e me espanta, toda vez que eu te vejo
E você se aproveita
Mostra o passado juntos e esconde os problemas passados
E isso é superar?
Ainda não entendi nem quero conceber
Porque me canso rápido
Mentira, eu lerdei muito
Porque eu não tirei você daqui



[ Katzuki Parajara ]

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Tampa do pote

Perdi a tampa do pote
Vazio
Pote que nunca serviu
Cheio
Na tampa que nunca cabêu…

Até serviu…
Também cabêu…

Mas perdi a tampa.

Tampei o pote co’a tampa d’outro
Pote
Que ficou sem tampa…

E assim me fui,
Destampando
Pra poder tampar…

Vida é tampa perdida
É pote sem tampa
É tampa que dá
No pote que cabe.

É a arte de achar a tampa errada
Pra poder tampar o pote certo.


(Bean Flügell)